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O poder, a vaidade e o assédio moral

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Nicolau Maquiavel (1469-1527) escreveu: “Dê o poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é”. Sobre o mesmo tema Abraham Lincoln (1809-1865) disse: “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. Infelizmente eles estavam certos, o “poder” tem de fato a capacidade de revelar quem a pessoa é, e isso acontece geralmente tão logo ela assume um determinado cargo.

Às vezes quanto maior o cargo que a pessoa assume, maior o “poder” e mais chances de se deslumbrar e cometer os piores absurdos.

O triste nisso tudo é saber que não é preciso muita coisa para transformar uma pessoa antes humilde, meiga, gentil e educada, em alguém que irá usar o “poder” para perseguir, e atingir as pessoas que pensam diferente dela.  Se sentem super-heróis, que não podem ser confrontados, muito menos aceitam qualquer tipo de crítica. Se cercam de pessoas que estão ali só para o ovacionarem. Geralmente perdem a capacidade de pensar que esse “poder” não é eterno e que em breve tudo que fazem para outras pessoas pode se voltar contra elas mesmas.

Me recordo de uma situação, que acompanhei de perto. Em certa ocasião uma pessoa que me assessorava ficou desesperada quando foi exonerada do cargo comissionado que ocupava. Ela não sabia como iria enfrentar os colegas agora como “mera” servidora. O apego ao status que o cargo lhe conferia não era normal e bastou um simples levantamento para descobrir o porquê de tamanho desespero. Investida do cargo ela perseguia, humilhava, enfim, cometeu muitos erros e agora estava preocupada em tudo voltar diretamente para ela.

Às vezes quanto maior o cargo que a pessoa assume, maior o “poder” e mais chances de se deslumbrar e cometer os piores absurdos.

Não é de hoje que o “poder” se tornou um problema dentro da administração pública, responsável pelo travamento da máquina em todas as esferas e níveis. A conta é simples: despreparo + vaidade + maldade = assédio moral. Isso tem ocorrido em alta escala em diversos pastas e empresas, pessoas que assumem uma função e deslumbradas se esquecem por quê e para quê estão ali.

A conta é simples: despreparo + vaidade + maldade = assédio moral. Isso tem ocorrido em alta escala

É claro que esta não é uma situação exclusiva do setor publico na iniciativa privada o assédio moral também acontece. Uma série de condutas com objetivo de humilhar e constranger o trabalhador, ofendendo a sua dignidade, tornando o ambiente inadequado para o trabalho, quem tem medo de perder o emprego acaba por se submeter a essas situações.

No livro “As Regras de Ouro dos Casais Saudáveis” do renomado psiquiatra Augusto Cury, um estudioso do comportamento humano e da gestão da emoção, encontrei algo que me surpreendeu. Segundo ele, mais de 90 por cento das pessoas que possuem qualquer tipo de “poder” não estão preparadas para exerce-lo. Ele acrescenta ainda, seja ele financeiro, intelectual, político, religioso ou por ser uma celebridade, não são dignas do poder que têm. O poder as apequena, nutre os fantasmas que hibernavam nos porões da sua mente com a necessidade neurótica de controlar os outros, de estar sempre certo e de se evidenciar socialmente. O poder as infantiliza. Leva-as a se autopromover e não a promover a humanidade.

Atos como perseguições políticas, ofensas, difamações, troca de função e transferências injustificadas de local de trabalho, são exemplos de assédio moral. As repetições dessas condutas acabam por deixar as pessoas doentes e desmotivadas, o que resulta num número muito grande de afastamento do trabalho com atestados médicos, com isso todo o trabalho fica prejudicado e quando isso acontece no serviço público quem paga a conta é o cidadão.

O assédio moral também é um tipo de abuso, que pode levar a vítima a desencadear uma depressão ou algum outro Transtorno Psiquiátrico, por isso o servidor precisa ficar atento e ao identificar que algo nesse sentido esteja acontecendo, reunir provas e denunciar nas ouvidorias ou corregedorias dos órgãos públicos ou empresas. Se manter em uma situação como essa não é a atitude recomendada.

Sirlei Theis é Advogada, especialista em gestão pública  e  Analista da Área Meio do Poder Executivo.

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